Em um pronunciamento que voltou a minimizar os efeitos do Coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro mais uma vez acusou a imprensa como responsável por espalhar a histeria pelo País, prejudicando a economia brasileira.
Para o presidente, e seus seguidores, a imprensa se alimenta da crise e acredita que quanto pior, melhor para que haja mais audiência, acessos, views e outras formas de medição. Não há dúvidas de que o consumo de notícias aumenta em situações como a atual. Mas é equivocado afirmar que a crise interessa a mídia.
O que Bolsonaro não sabe, ou, finge não saber, mas quem trabalha com comunicação está calejado é que em crises econômicas sejam pequenas, médias, ou grandes, a imprensa está entre as principais prejudicadas. Isso porque, tanto no setor público, quanto no privado, os primeiros cortes acontecem justamente no campo da publicidade. É um ato instintivo. Em tempos de crise as empresas, de todos os portes, e os governos gastam menos com divulgação e redirecionam os recursos para o funcionamento básico de seus negócios.
Mesmo sabendo disso, a imprensa séria dá a devida importância ao problema. Porque entre salvar vidas e manter suas planilhas de ganhos, a escolha sempre será a primeira. Não se trata de heroísmo e sim de dever. E não há como se contestar o que a ciência e os exemplos de outros países nos mostram. Ah disse o presidente: Na Itália está frio, como se aqui o inverno não fosse chegar. Ah, mas a população da Itália é mais idosa, como se aqui o número de pessoas da “melhor idade” não fosse semelhante, não percentualmente, mas quantitativamente. Para piorar o nosso cenário, no país Europeu não existem favelas nem um precário esgotamento sanitário, o que certamente potencializará a propagação do vírus.
Além do flagelo da morte, o coronavírus traz uma faceta mais cruel para aqueles que ficam. A impossibilidade de despedir-se daqueles que se vão. Não há acompanhamento nos hospitais. Não há velórios. Não há o último adeus. E mesmo assim, o presidente e alguns dos seus, continuam minimizando o problema. Uma lástima sem precedentes.
É importante manter a economia. Mas há formas de o próprio governo garantir o básico para os mais necessitados e depois soltando aos poucos o setor. Nenhum país quebrará por ficar 15, 30 ou 45 dias com atividade econômica reduzida. É precioso ganhar tempo para que o próprio governo se prepare para o pior que, infelizmente, está por vir.